"- Vocês que são do rock, aprendam a amar o Brasil".
Ao dizer isso (talvez quase isso) - já faz 10 anos e eu li mas não ouvi essa frase ser proferida -, Carlinhos Brown tentava convencer pessoas que atiravam garrafas contra ele a pararem de o fazer. Estavam numa das edições do "Rock in Rio". Ele era o primeiro músico a se apresentar naquele dia e, em seguida, era a vez do Guns N' Roses, por quem os da algazarra aguardavam.
Vejam só que ele insistiu, minutos depois da primeira tentativa: "- Podem jogar o que quiser, eu sou da paz e nada me atinge".
Pois é. Conversar, no Brasil, pode dar um prazer imenso porque há gente muito curiosa. Só que também pode levar à exaustão, se o público for de adolescentes sem parada ou de gente que se comporta como se estivesse na adolescência.
Não invento teoria, quando faço esse tipo de afirmação; fui professora em São Paulo durante 8 anos consecutivos. Errei muito, porque perdia as estribeiras com meus alunos de menos de 18 anos. Por outro lado, fiz o que julgava ser da minha competência; não me sentiria à vontade se imitasse as estratégias de um colega. Trabalhei ao lado de professores práticos e respeitados, não me esqueço deles, mas em geral a minha ação a portas fechadas acontecia no intervalo entre um imprevisto e o merecido descanso, por isso imitar seria o mesmo que ir além da minha margem de segurança para aprender.
Por isso, Carlinhos Brown pode ter sido alvo de muitas piadas, depois do episódio que eu fui buscar, mas foi autêntico. Disse pacificamente o que pôde. Ele também é autêntico ao compor, não tenho dúvidas. Lembro de uma entrevista que deu ao Jô Soares. À época eu não achei muita graça à observação que ele fez; disse que ainda faria um curso de ponto e vírgula... Claro que ele estava a assumir o fato de ter pouco conhecimento formal de língua portuguesa. Hoje vejo outro lado da resposta com que ele se saiu. É uma forma pitoresca, castiça de confirmar a existência de uma lacuna que o público do Jô não costuma perdoar.
Vou contrariar, por fim, uma ideia que tenho ouvido mais vezes do que é suposto.
Essa mesma pessoa que manteve a calma e que falou em nome do Brasil, em nome do amor, tem fãs na Europa, fez concertos em países africanos, concorre ao Grammy Latino e nesse sentido representa o seu país. Representa muito mais do que quem bate no peito para dizer que defendia o artista brasileiro dos ataques (quem os viu?) de um artista gringo. Pensei no Roger, sim, do Ultraje a Rigor, sobre quem falei no post anterior a este. Se um corre o risco de parecer piegas, o outro corre o risco de parecer vazio. Mais consistente construir uma imagem com calma, falar em calma, agir com calma.
PS - é desta mesma paz que fala O Rappa?
Minha Alma
Por isso, Carlinhos Brown pode ter sido alvo de muitas piadas, depois do episódio que eu fui buscar, mas foi autêntico. Disse pacificamente o que pôde. Ele também é autêntico ao compor, não tenho dúvidas. Lembro de uma entrevista que deu ao Jô Soares. À época eu não achei muita graça à observação que ele fez; disse que ainda faria um curso de ponto e vírgula... Claro que ele estava a assumir o fato de ter pouco conhecimento formal de língua portuguesa. Hoje vejo outro lado da resposta com que ele se saiu. É uma forma pitoresca, castiça de confirmar a existência de uma lacuna que o público do Jô não costuma perdoar.
Vou contrariar, por fim, uma ideia que tenho ouvido mais vezes do que é suposto.
Essa mesma pessoa que manteve a calma e que falou em nome do Brasil, em nome do amor, tem fãs na Europa, fez concertos em países africanos, concorre ao Grammy Latino e nesse sentido representa o seu país. Representa muito mais do que quem bate no peito para dizer que defendia o artista brasileiro dos ataques (quem os viu?) de um artista gringo. Pensei no Roger, sim, do Ultraje a Rigor, sobre quem falei no post anterior a este. Se um corre o risco de parecer piegas, o outro corre o risco de parecer vazio. Mais consistente construir uma imagem com calma, falar em calma, agir com calma.
PS - é desta mesma paz que fala O Rappa?
Minha Alma
a minha alma está
armada
e apontada para a cara
do sossego
pois paz sem voz
não é paz é medo
às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz
as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão
me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo
procurando novas drogas de aluguel
do sossego
pois paz sem voz
não é paz é medo
às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz
as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão
me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo
procurando novas drogas de aluguel
nesse vídeo
coagido
pela paz que eu não quero seguir admitindo
às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz
pela paz que eu não quero seguir admitindo
às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz
Difícil dizer qual a melhor forma de agir em cada problema que surge. O episódio do Carlinhos Brown (de forma diferente do episódio do seu post anterior) me parece culpa de uma organização maluca que faz misturas sem sentido e coloca tribos muito diferentes num espaço feito para o culto de determinados ídolos.
ResponderEliminarAcredito que fora dali possivelmente fãs do Guns e do Carlinhos poderiam sentar, conversar, até enamorar e casar, mas não ali no templo criado para o show.
Não seria mais justo com todos, principalmente com os artistas, noites dedicadas realmente a tipos próprios de música? Uma noite só com música axé resolveria o problema. Com o Guns tocando junto com bandas de seu estilo. Cada um cultuando seus ídolos.
Mais do que a forma de se reagir perante a adversidades como essa (afinal cada um reage de um modo a casa situação), vejo com um olhar crítico quem coloca o outro nessa situação vexatória.
Não seria também a instituição escola responsável por preferir quem não perde as estribeiras em detrimento de quem realmente sabe passar adiante aquilo que sabe? Somos professores, não babás, ainda mais na faixa etária em que você lecionava.
E é um engano pensar que o artista não se sentiu atingido. Provavelmente apenas agiu assim naquele momento, mas assim que pode. Deve ter sentido a garganta dolorida e as lágrimas chegando aos olhos. Os colegas que você sabiamente não imitou, provavelmente sofreram e sofrem também, apenas não demonstravam isso. E como um dos que evita demonstrar, sinceramente não vejo vantagem alguma nisso.
Perfeitamente!
ResponderEliminarAcredito que o Carlinhos Brown ficou mal.
Sei que os meus colegas às vezes ficam mais frágeis com a turbulência.
Às vezes ficavam mais seguros, embora desgastados.
Só não entendo em que você não vê vantagem? É em imitar? Em não responder com agressividade?
O que eu pretendo assinalar é que já fui do tipo que esbraveja, como Roger.
Hoje olho para trás e penso firmemente que mais vale ser como o Carlinhos Brown. Sofrer a gente sofre, mas não precisa perder o controle.
E às vezes, se quer saber, nem precisa sofrer tanto. Há que gerir dramas pessoais...
Ficou mais claro?
Algo que deixei passar: tem toda a razão: a escola parece preferir quem não perde as estribeiras, mas no fundo lucra mais, a longo prazo, com quem se exprime na justa medida do seu entendimento.
ResponderEliminarMinha questão é desejar atingir um entendimento diferente, o que quer dizer não estragar o meu dia em razão de falta de limite nos outros.
O meu limite, e pode ser o meu limite como professora, tem que estar estabelecido.