"Briga, chuva
e muita festa: Ultraje a Rigor rouba a cena no SWU
13/11/2011 18h50 • Guilherme Guedes
A briga aconteceu entre integrantes das equipes de Peter Gabriel e do Ultraje a Rigor, segundo Roger, vocalista da banda brasileira. Eles discutiram porque o show do Ultraje atrasou em razão da chuva.
"Muito
obrigado ao nosso amigo Chris
Cornell". A ironia de Roger Moreira, vocalista e guitarrista do Ultraje a Rigor, foi a faísca que
faltava para disparar uma briga entre roadies e membros da produção do grupo
paulista com integrantes da equipe do cantor Peter Gabriel. Ficou confuso? Pois é.
O público do SWU Music & Arts Festival também.
Tudo
começou com a chuva forte que cobriu Paulínia no meio da tarde, pouco antes da
apresentação do Ultraje no Palco Consciência. Os ventos e a água atrasaram a
montagem do palco, e o show do grupo precisou ser atrasado, antecipando a
performance da Tedeschi Trucks
Band, no Palco Energia.
A
produção de Peter Gabriel, que veio ao Brasil acompanhado de uma orquestra,
passou a pressionar o grupo brasileiro para encurtar o show e tentar compensar
o atraso, que a essa altura beirava as duas horas. Com informações confusas,
Roger expôs a confusão ao público, mas jogou a culpa em Cornell. A pancadaria
no palco (que você vê na galeria acima) atiçou a plateia, que tomou partido do
Ultraje a proporcionou um dos shows mais animados desta edição do festival.
Após
a baderna, os refrãos de faixas como É Tudo Filha da P**a e Nada a Declarar ganharam
outro significado, com palavrões berrados, todos direcionados injustamente ao
vocalista doSoundgarden.
Em determinado momento, Roger - ainda mais disposto a provocar "os
gringos", deixou a guitarra de lado para simular um demorado strip-tease,
seguido por mais uma provocação verbal: "Nós temos bastante tempo de
palco, mesmo".
Ao
fim de O Chiclete -
cujo refrão "bum-bum-bundão"
gerou coros de "Cornell, vai tomar no c*" - Roger não perdoou.
Traduziu a frase e a direcionou mais uma vez ao ex-vocalista do Audioslave: "Asshole! Big asshole! Big, huge, asshole!".
Sob
fortes aplausos, o quarteto encerrou a apresentação com o sucesso Nós Vamos Invadir Sua Praia.
Depois do coro "mais um, mais um" da plateia, Roger e o baterista
Bacalhau tentaram puxar Marilou, cortada no meio pela produção do evento.
Revoltado,
Bacalhau emendou em um solo catársico de bateria, que terminou com as peças do
instrumento espalhadas pelo palco, jogadas e chutadas pelo músico. O público
adorou, e a banda também. Toda a equipe do Ultraje aplaudiu o público após o
fim, em uma bonita - ainda que injusta - exaltação do rock nacional."
Nunca
estive num show/concerto do grupo de rock Ultraje a Rigor, criado
há cerca de 30 anos em São Paulo.
Gosto
de várias músicas deles, e me lembro agora de "Eu me amo" e de
"Terceiro", que tem uns versos engraçados:
Todo equipado, preparado na linha de partida
Daqui a pouco vai ser dada a saída
Todo mundo nervoso e eu não tó nem aí (O importante é competir!)
Daqui a pouco vai ser dada a saída
Todo mundo nervoso e eu não tó nem aí (O importante é competir!)
...
Se eu me esforço demais vou ficar cansado
Já dá pra enganar eu ficando suado
Se reclamarem eu boto a culpa no patrocinador
Se reclamarem eu boto a culpa no patrocinador
É
meio cínica essa letra de música, quem sabe irônica, mas não passa de
troça. O nome do grupo, de resto, também tem esse espírito de brincadeira e de
ruptura com as convenções.
A
irreverência de "Terceiro" não se aproxima do nível de cinismo de
alguns filmes recentes de Woody Allen, por exemplo, isso para criar um ponto de comparação com um ícone, uma figura badalada que muitas vezes deu-nos mostras do seu humor e
da sua inteligência.
Estou
a pensar em "Match point", de 2005, que me fez sair da sala de cinema
atônita e desconfortável com a mudança de registro. O site do IMDB destaca a
fala de uma das personagens do filme:
- The man who said
'I'd rather be lucky than good' saw deeply into life" .
O
argumento dela faz supor que é ruim ser boa pessoa. Mais vale ter sorte e,
nessa levada, para estar com os amigos, mais vale ir ao cassino, ao bingo etc.
Pelo menos não se rompe o padrão, é sortudo com sortudo, sem hipótese para as
pessoas que aceitam a bondade sem aquele erguer de ombros, sem desdém.
Enfim,
falei no Ultraje, fiz uma digressão até Woody Allen e quero dizer o quê?
Quero
dizer que não imaginava o Roger, vocalista do grupo Ultraje a Rigor, a criar
confusão a partir de um mal entendido com gente que fala outro idioma e que foi
ao Brasil para participar num evento cultural. É assim mesmo, começa-se uma
briga - que poderia ter tomado outras proporções -, ficam na memória as
fotografias da tonteria (que eu não faço questão de publicar), as palavras confusas, o mal estar? Isso dá cá uns
sinais de respeito pelo público incríveis!
E
como se não bastasse a trapalhada, a falta de jeito, um jornalista do UOL
apresenta o incidente como um momento alto... ops!
Não
gosto muito da minha versão moralista, que já me rendeu inimizades. Não
acredito nisto de julgar com dureza e de criar um campo, como se fosse um campo
magnético, para me proteger da influência perniciosa de todas as pessoas más!
Lado negro cada um tem o seu, inclusive eu. Não quero sublinhar esse lado do
Roger.
Fato
é que lado bom cada um tem o seu, também. Até que se prove o contrário.
Mais valia saber que o Roger tocou descontraidamente e depois foi andar na chuva, ao invés de assistir à apresentação do artista que o sucedia no palco. Ele podia ou não podia simplesmente abdicar do espetáculo de quem o chateou? Era bem mais simples. E se alguém achava graça nisso, era ele. Continuávamos a lembrar dele como um cara gozador e pronto.
Mais valia saber que o Roger tocou descontraidamente e depois foi andar na chuva, ao invés de assistir à apresentação do artista que o sucedia no palco. Ele podia ou não podia simplesmente abdicar do espetáculo de quem o chateou? Era bem mais simples. E se alguém achava graça nisso, era ele. Continuávamos a lembrar dele como um cara gozador e pronto.
Reagir
provocando, inflamar-se à toa, misturar o atropelo casual com desrespeito pelos
artistas brasileiros e tal é investimento mal feito. Bobagem de quem perdeu a
compostura. Tem direito, ok, mas que seja em casa dele...
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