Porto, Portugal, 14 de dezembro de
2012. Lá se vão alguns dias desde que o Espaço
t - Associação para Apoio à Integração Social e Comunitária, encerrou as
atividades do seu sétimo congresso internacional.
A participação de palestrantes e
público em torno do tema da felicidade oscilava do pueril reconhecido com algum
embaraço à declarada defesa dos infelizes (prostitutas e também homens e
mulheres com muita preguiça para os rituais que envolvem a construção de uma
história de amor).
Era a segunda e última mesa-redonda
da tarde e os esforços estavam concentrados no entendimento das relações entre
amor, felicidade e sexo, por isso os discursos rondarem a esfera dos que vendem
afeto e dos que querem comprá-lo a preços mais baixos, na prateleira do
cibersexo, por exemplo.
De um dos lados da mediadora, a
jornalista Conceição Queiroz, estavam uma socióloga e um sociólogo, do outro, um
psiquiatra e um linguista. Todos os cinco haviam sido convidados para sentar em
poltronas aveludadas, cada uma em uma cor e um desenho próprios.
As idades também eram distintas
entre os membros do grupo, como distintas foram as opções de apresentação. A
socióloga Inês Fontinha fez-se entender a partir de conceitos que são a base do
trabalho dela com mulheres prostituídas, como o de “problema social”; o
psiquiatra António Pacheco Palha também buscou definições, depois de recusar
resposta a uma pergunta que considerou fora de foco, mas a atenção dele – e a
nossa, é claro - recaiu sobre as definições de dicionário e os resultados de
pesquisas internacionais; o sociólogo Telmo Fernandes se apegou a fotografias,
duas delas muito interessantes, pois nelas está Kathrine Switzer, a 1ª mulher a
oficialmente correr uma maratona, e homens que, no decorrer da prova de Boston,
em 1967, ou apoiaram-na ou tentaram impedir que ela chegasse à meta; o
linguista Pedro Chagas Freitas levantou-se para ler uma espécie de manifesto,
que falava em insegurança e na consequente resignação com qualquer coisa que se
aproxima da felicidade, mas que é apenas subfelicidade.
Certo é que todos eles apontaram
caminhos, entre a margem que a incerteza e o riso permitem.
Em seguida a essas quatro
abordagens, ainda houve tempo para que viesse ao encontro do público um senhor
espanhol de nome José Maria Dória, com uma apresentação intitulada “Un mundo
feliz”.
De acordo com essa última
perspectiva (que antecedeu apenas dois discursos interessantes, mas protocolares),
a felicidade é um estado de consciência, é a tão comentada espiritualidade, a
que acedemos quando superamos sensações de carência.
Já antes eu, parte da plateia, tinha
ouvido discursos semelhantes a esse, que ouço quase como instruções acerca de como
admitir dor sem gerar sofrimento e por aí afora, mas esbarrei naquele dia em
algumas coordenadas que fizeram eco, e já conto o porquê.
Mais do que qualquer outra
informação ou reflexão anteriormente posta à mesa, guardei mais fundo a ideia
de que o coração sabe, sente, intui, adianta-se, responde, toma decisões e pode,
por isso tudo, ser a nossa esperança de integração, de unidade, uma vez que a
razão não nos tem conduzido a bom porto. A mensagem foi diretamente para o
título dessa minha cronicazinha, justamente.
Se medo e amor estão em
compartimentos conectados, como afirmou o orador, dentro do sistema que se
ensina na escola, lá atrás na nossa educação formal, sob o nome de “vasos
comunicantes”, que conclusões são possíveis? Ai de quem nunca aprende a parar
de alimentar o tanque do medo, pois estará sempre a interferir na pressão sobre
o amor? Será essa uma dedução correta? Não sei dizer. Qual será a densidade do
medo? Qual será a do amor? Misturam-se? Como caminham para o equilíbrio? Bom,
entendo mal uma coisas dessas, embora tenha tido, em casa, um pai que falava
vezes sem conta nos vasos comunicantes e em como se aplicam a muito da nossa
vida prática.
Penso e com esse pensamento
concluo, que o amor precisa de combustíveis, nem que seja uma dose de medo, mas
antes de tudo precisa de ar, que é o mesmo que tempo, que amadurecimento ou,
por outro lado, é o mesmo que inocência. Só a inocência permite alguns começos,
as pessoas inocentes é que podem dar início a determinadas histórias, porque
não a relacionam a traumas, a preconceitos, a dores de amores… Pessoas
crescidas, no entanto, sabem o que é a ternura, valorizam-na. Em diferentes
estágios de desenvolvimento, enfim, o coração e a inteligência dele podiam ser
motores para um salto maior, um desenvolvimento de toda e qualquer fase do
homem; o coração poderia apontar em que direção está a confluência, a
coincidência, a encruzilhada com a qual saímos todos ganhando e por isso mesmo,
felizes. O coração, consultado no momento a seguir às separações matrimoniais e
ao reconhecimento de que estamos endividados, por exemplo, devia nos dar alento
suficiente para mudanças de rumo, para recomeços em outras rotas, com novos
hábitos, novos olhares, ou com os amores de que nos afastamos. Quem gosta de
você? Onde está quem gosta de você?