Do que precisamos, afinal?
De boas histórias que nos ajudem a viver. As únicas
verdades úteis são as que nos ajudam a viver. Num relacionamento, o que você
precisa é criar uma história na qual se sinta vivo com a outra pessoa.
Hoje, temos mais opções para criar essa história?
Não sei. A cultura liberal oferece mais escolhas do que
havia antes. Mas o capitalismo cria a ilusão de que temos muitas escolhas,
quando na verdade temos muito poucas.
A única escolha é ser feliz ou não. É isso que está sendo
vendido como o único programa: quanto prazer você pode ter, quão feliz pode
ser. Só que felicidade pode ser como uma droga, nunca satisfaz, você quer
sempre mais. Há coisas muito mais importantes que a felicidade: justiça,
generosidade, gentileza.
O psicanalista britânico Adam Phillips, o homem que responde às duas perguntas que você pode ver aqui em cima, foi entrevistado por uma jornalista da Folha de S.Paulo, para falar sobre casais e fidelidade.
Li a entrevista do início ao fim por causa do tema, ok.
Mas, recortadas (como eu as coloquei no blog), as perguntas e as respostas me pareceram mais abrangentes desde o momento em que as li.
As "boas histórias" que nos ajudam a viver vêm do casamento e não só. Vêm do trabalho, das amizades, da família, da vizinhança, da televisão, do cinema, da rua, da convivência com os animais, voltam até nós a partir de um passado que abandonamos etc.
Como agarrá-las?
Acho que o não as poder agarrar tem que ver com o que Adam Phillips fala na última resposta... parecendo que há muitas portas e muitas janelas, não há porque será improvável sustentar a maior parte das boas histórias que se apresentam como tais.
Abra os olhos e veja boas histórias. Sinto o cheiro delas. Deixe o vento tocar o seu cabelo e os pelos do seu braço quando elas passarem por perto, sem mais. Ouça sem querer as boas histórias dos outros.
Depois, então? Então! Tudo o que é boa história terá que trazer até a sua vida muito muito prazer.
Não vale trazer ensinamento.
Não vale trazer experiência.
Não vale trazer conforto.
Porque vivemos como se nada disso enchesse barriga.
Não enche barriga, não enche o peito de ar, não enche a cabeça de sonhos, a não ser em casos raros.
Algumas pessoas devem pôr a cabeça no travesseiro para adormecer com bons presságios, apanhadas por boas histórias.
A grande maioria de nós, no entanto, parece que já considera qualquer pista uma chatice.
Na mesma página do Universo on line que trazia link para a entrevista que eu reproduzo num diminuto trecho, havia uma chamada para a seguinte descoberta: quando diz "obrigado" a uma pessoa, você cuida da sua saúde, pois agradecer, ser cordial, faz bem à saúde.
Começo a achar que eu tive mais naturalidade nesse campo, quer dizer, já fui muito doce, mas estou esquecendo. Digo "obrigado", "bom feriado", "esteja à vontade", mas nem sei se me ouço.
Daí a literatura, uma aliada antiga, uma segunda Betina, que traz de qualquer lugar realidades inteiras, ambiguidades que me fazem pensar, imagens que eu quero ver pela satisfação de imaginar.
Aceito e tomo todas as doses. Já vou indo.