“We accept the love we think we deserve” é uma
das frases do filme “The perks of being a wallflower”, repetida de professor
para aluno e deste para uma amiga. No
segundo caso, a frase serviu como
resposta à pergunta “Why do I and everyone I love pick people who treat us like
we're nothing?”.
Há montes de artigos a respeito do
filme na internet. Não quis ler muitos, para manter-me mais livre no momento de
escrever.
Quis saber, isso sim, em quais
situações a palavra “wallflower” é utilizada. Descobri que é aplicada num
contexto fácil de visualizar, presente na trama do filme: quem pode ser chamado
“wallflower” isola-se durante as festas, naqueles cantos onde não se dança; são
as pessoas que vão a uma festa sozinhas, por exemplo, e não se soltam a dançar
ou puxar assunto de forma a conhecer outras pessoas.
Fui wallflower? Não me refugiava nos cantos do salão. Eu participava. Sempre dancei, mesmo sem a exuberância das personagens do filme, mostrada numa cena que tem esta música:
Só que, ao mesmo tempo em que
participava, sentia-me transparente, como o protagonista se sentia antes de
conhecer um determinado grupo de amigos. Às vezes ainda me sinto assim, como
acontece a muita gente boa que está a precisar de espelho para se enxergar e
não se retrair.
Decididamente não fui como o
protagonista do filme, quando se trata de generosidade ao entender e acolher, sem
julgar. Muitas vezes eu passei sem entender. A assimilação ou era lenta ou está
muito mais vincada em mim, hoje. É igualmente verdade que a capacidade de
assimilar existiu em força e ficou para trás, como por exemplo numa situação dos
meus 11 anos, que uma conversa com um amigo trouxe à tona duas décadas depois,
para mostrar como eu lhe tinha dado ânimo logo que nos conhecemos, porque o
enxerguei.
Enfim, o que eu vi no cinema tem
um pouco dos adolescentes que eu conheci e da adolescente que fui. Tem, ainda,
algo da adulta em que me tornei; durante a fase adulta é possível experimentar
emoções tão perturbadoras (ia dizer transformadoras, mas talvez seja exagero,
pois os adultos podem estar muito cansados para mudanças de dentro para fora)
quanto as das personagens do filme.
Mas vamos povoar de verdade a cena
do filme, dando nome aos bois, porque se eu falar da minha experiência de
adolescente, pode não soar tão credível quanto eu desejo.
No filme “The perks of being a
wallflower” existe o Charlie, existe a Sam, existe o Patrick, existe a Mary
Elizabeth. E mais uma constelação de amigos, parentes e opositores.
No
fundo todos têm a impressão de que são uns desajustados, “misfit toys”, como
Sam os define, mas se divertem. A própria Sam era embebedada nas festas, pelos
rapazes, e depois passou a escolher namorados sempre infiéis. Patrick mantém
segredo sobre um namorado que não quer assumir a homossexualidade, embora diga
que o ama. Mary Elizabeth faz de conta que está mais zangada do que realmente
está, para que não ousem criticá-la.
Quem
entra para o grupo mais tarde é Charlie. Não tem amigos, enfrentou uma estafa
por causa de traumas e teme os anos de high
school, conforme vamos sabendo à medida que escreve para desabafar.
Mas
que mudança acontece, então, no tipo de satisfação que ele consegue ter! Começa
a viver situações e mais situações com os amigos novos, os que o acolhem, e a tempestade não desaparece, antes
vira um chiste. Por exemplo: Patrick sabe que Charlie está em recuperação, sob
cuidados médicos, e ao invés de orientar a conversa para os alertas, as
chamadas de atenção, faz rir ao dizer que já está prevista outra crise para
amigo, dentro de um certo tempo, da mesma forma que os outros podem contar com
uma viagem ou o início de um curso.
Charlie faz
progressos inclusive quando se aproxima da redescoberta de um dia muito duro na
sua infância.
Mais
do que pensar, mais do que sentir, Charlie adquire muito jeito para dar, para
receber, para se atirar - as cenas de “The Rocky Horror Picture Show” em que
ele atua vestido de mulher, demonstram isso -, até ver o momento e, em cada
momento, o infinito.
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