Vou pensar no lado bom e alinhavar ideias, antes que elas caiam em desuso por cedência minha ao desânimo.
Meu ponto é o seguinte: li contos machadianos com particular atenção, alguns repetidas vezes, como o famigerado "Missa do Galo", porém não gostaria de (re)vivê-los, principalmente no que diz respeito aos ambientes, ora de um profundo cinismo ora de solidão.
Machado de Assis era um crítico inteligente. De acordo com a correspondência dele que vasculhei pra frente e pra trás, creio que não foi um masoquista nem deu testemunho de uma vida ou sórdida ou triste, enquanto escrevia. Documentava, incrementava, experimentava, mas não atravessou pela literatura alguns dramas humanos para nos aconselhar a abraçá-los, como quem acolhe o sofrimento.
Com esta apaixonada por literatura, que confusão se passa no terreno entre o dia a dia e a literatura, então? Não foi suficiente o aprendido na leitura desse mestre?
Não, solidão, hoje não quero me retocar
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar...
Nesse salão de tristeza onde as outras penteiam mágoas
Deixo que as águas invadam meu rosto
Gosto de me ver chorar
Finjo que estão me vendo
Eu preciso me mostrar...
E finjo que finjo que finjo
Que não sei
Que não sei
Por vezes o espelho que eu seguro me mostra ambientes quase machadianos… Espelho certo? Pode ser esta a questão: estou a tomar emprestado um espelho muito bonito, que veio com uma moldura encantadora, mas que não me ajuda a enxergar!
Será o espelho capaz de me refletir em perspectiva? Dará conta do equilíbrio que eu desejo ver no meu micro ambiente? Será que consigo usá-lo para admirar o ambiente e depois alterá-lo, colocando-o de lado ao fim do uso?
E não se trata apenas de ver, trata-se de ver aquilo em que investi o carinho que mora dentro de mim… Ele mora. Mas desconfio que passeie pouco cá fora.
De todo modo, o que me inquieta, seja ou não resultado de um filtro errado para lidar com a realidade, o que me faz lembrar o mestre Machado de Assis, é que, entre muitas, há pelo menos uma maneira de considerar a construção de um ambiente familiar que me interessa e eu não acerto a mão, talvez nem teoricamente, porque esbarro aqui e ali na tal sensação de pouca coisa compartilhada. A cada vez que tento observar e nada mais, vejo a mim mesma entre sonhos, promessas, concepções muito românticas.
Com tudo o que implica, uma família é muito mais que um núcleo restrito e acolhedor. Nela os fracassos, ou antes o sentimento de fracasso, penetra com força e é preciso tomar cuidado com a possível falácia. Amigos de um e amigos de outro, sejam eles pares verdadeiros ou companhias que não nos dizem muito, amigos comuns, vizinhos…
Primeira conclusão substancial: geralmente não vale a pena colidir com quem quer que seja, porque há de tudo nas relações da família e o principal é atravessar. Colidir implica permanecer tempo demais no mesmo estado. Atravessar deve deixar uma sensação de vento no rosto, de menos monotonia, de mudança.
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